Tratar sobre o tema deficiência intelectual não é uma tarefa fácil. Se a proposta é fazer um drama, o lugar comum é cair no dramalhão que leva o público rapidamente a lacrimejar. Se a ideia é fazer humor o caminho mais simples, mas sem dúvidas desonesto e preconceituoso, é colocar tais pessoas em situações ridículas e falando abobrinhas a todo instante.
O diretor e roteirista Garry Marshall, famoso por Uma Linda Mulher, quis agregar romance, drama e humor em uma mesma obra, mas com o desafio ter como protagonista uma deficiente intelectual que fugisse da caricatura e tocasse o emocional do público. Injustamente Simples Como Amar foi pouco visto e não agradou a crítica, mas é preciso ressaltar que ele atinge com perfeição seu objetivo: mostrar que uma pessoa aparentemente dependente dos outros pode e deve ser incentivada a levar uma vida normal como a de qualquer outro indivíduo.
A mensagem é um estímulo para trabalharmos a tolerância quanto ao “diferente” e até mesmo para pensarmos duas vezes antes de reclamarmos por problemas supérfluos. Carla Tate (Juliette Lewis), após passar alguns anos em uma escola especial, é considerada apta a voltar para casa de seus pais em São Francisco. Apesar de ser intelectualmente limitada, a jovem está cheia de planos para essa nova etapa de sua vida. Planeja morar sozinha, fazer um curso em uma escola normal e também se libertar da constante vigilância da mãe, Elizabeth (Diane Keaton), que a cobre de mimos de forma sufocante.
Ela quer que a garota se enquadre ao padrão de vida da família, diga-se de passagem, requintado, mas encobrindo uma série de conflitos cotidianos. O desejo de ter vida própria aumenta quando conhece Danny McMann (Giovanni Ribisi), um jovem que sofre com problemas intelectuais semelhantes, mas trabalha e mora sozinho. A situação em comum acaba os aproximando e eles passam a namorar, para desespero da mãe da moça. Já Radley (Tom Skerritt), o pai de Carla, vê com bons olhos a situação e a chance de sua filha provar que pode sim ter uma vida normal, assim incentivando-a e se colocando contra os ideais da esposa.
Inspirado em fatos reais, a pieguice habitual é substituída por generosas doses de humor sutil e romantismo que resulta em um longa açucarado que deve agradar ao público feminino e aos adeptos de obras mais sensíveis e que tratam de relações humanas. Certamente, apesar de algumas dificuldades serem mostradas, a vida em conjunto de dois deficientes é mostrada de forma superficial e romantizada, mas não estraga o filme já que a proposta é realmente apresentar uma história de amor leve entre duas pessoas comumente excluídas da sociedade.
Eles entram em uma jornada de autoconhecimento e tentam resolver seus problemas sozinhos. Para a protagonista, mostrar para a família que é independente vira um objetivo de vida, mas justamente das pessoas que ela deveria receber auxílio a moça sente que só recebe críticas e poderia ser um fardo. O título original, “a outra irmã”, remete mais a essa ideia de se sentir rejeitada ou isolada. O nacional também é bonito e eficiente, mas muito genérico o que também acaba colaborando para a minguada fama que o longa alimenta desde seu lançamento.
A atriz Juliette Lewis ganhava aqui o seu primeiro papel em cinema após um período de recesso para se tratar da dependência química, mas se mostra um pouco exagerada em alguns momentos. Quem se sai melhor é seu companheiro de cena Giovanni Ribisi, com uma interpretação mais contida. Já Diane Keaton está habituada a fazer o papel da mulher faladeira e que quer comandar a vida de todos a sua volta e aqui não é diferente. Quanto ao roteiro merece destaque por excelentes passagens e oferecer uma boa noção ao espectador das dificuldades que os deficientes encontram para conviver com os familiares, a sociedade e até mesmo sozinhos, mas carrega um pouco ao explorar muito o assunto sexo.
São constantes as dúvidas e vontades que o casal de deficientes expõe o que acaba se tornando repetitivo e pode gerar interpretações erradas por algumas pessoas que não vão pensar duas vezes para disparar o popular “eles só pensam naquilo”, embora falar livremente sobre o assunto seja uma característica da doença afinal eles não têm discernimento por completo do que é certo ou errado, livre ou proibido. Simples Como Amar é o típico filme feminino e açucarado. Podem dizer que é puro clichê, mas é um daqueles que são irresistíveis quando não se tem nada para fazer. Simplesmente relaxar, aproveitar e porque não refletir levemente.
Fonte: Acervo do Cinema