Entre trilhas e destinos: os desafios do turismo adaptado
Por Isabela Pimentel
Quando se planeja uma mudança ou viagem de longa duração, questões como estadia, alimentação e bagagem são consideradas primordiais. Da mesma maneira, quando governantes preparam seus países para determinados eventos, a infra-estrutura, os orçamentos e as obras públicas devem ser levados em consideração.
A Copa de 2014, que será sediada no Brasil, traz à tona debates em torno dao planejamento e execução de novas construções. Dois novos elementos roubam a cena no momento da tomada de decisões: a necessidade de pensar a arquitetura e engenharia com base no conceito de desenho universal e a existência de uma demanda cada vez maior de empresas que se dedicam ao turismo acessível.
Seja no campo das comunicações, arquitetura ou tecnologia, a acessibilidade vem ganhando cada vez mais espaço, especialmente através do aumento do número de entidades e organizações não governamentais que se dedicam à defesa dos direitos do cidadão e promoção de uma real democracia. Setores que até então eram considerados pouco ativos no cenário social, entraram na esfera pública, ganharam voz, não apenas nas redes sociais, como também nos principais noticiários do país. Neste momento em que é crescente a demanda de visitantes e turistas que possuem necessidades específicas, uma nova política de planejamento e desenvolvimento focados no turismo precisa ser desenvolvida.
Em 2010, a acessibilidade no turismo foi tema de diversas palestras, incluindo congressos internacionais. Um evento que merecerá atenção da mídia será o III Congresso Internacional de Turismo para Todos, em Valladolid, Espanha, nos dias 25 e 26 de novembro, organizado pela Fundación ONCE, com a especial colaboração da Rede Européia de Turismo Acessível.
Pensando nestes desafios, diversos profissionais iniciaram as discussões sobre o chamado turismo adaptado, encarado como uma forma de inclusão social, atendendo aos interesses e demandas de todos, em uma perspectiva que inclui os segmentos de turismo, esporte e lazer. Estes profissionais passaram a ver o turismo sob uma perspectiva mais ampla, que ultrapassa o âmbito das questões sociais e culturais: o turismo é, antes de tudo, uma forma de inclusão social. A missão principal é a adaptação de locais e serviços turísticos para todo viajante, já que o direito de ir e vir é inalienável.
Ao se pensar em turismo adaptado, deve-se refletir sobre a adequação de serviços, produtos e atividades em prol de uma real inclusão que atenda às necessidades dos viajantes, englobando não apenas questões relacionadas à engenharia dos locais, como também à alimentação, transporte, respeitando as normas de acessibilidade.
Com o objetivo de promover viagens acessíveis, que possibilitassem a inclusão de todos os viajantes, Ricardo Shimosakai, Bacharel em Turismo pela Universidade Anhembi Morumbi/ Laureate International Universities passou a atuar em 2004 no segmento de turismo acessível.
No ano de 2001, o turismólogo foi baleado em um seqüestro relâmpago e se tornou usuário de cadeira de rodas. Porém, o prazer pelas viagens e a alegria de viver não foram barreiras, mas, sim, a mola propulsora para uma ação que viria a beneficiar milhões de pessoas: a criação de uma agência de turismo, a empresa Turismo Adaptado.
– Comecei a pesquisar e estudar sobre destinos e maneiras de como voltar a viajar. Meus colegas, vendo fotos e relatos sobre minhas viagens, começaram a pedir informações, e até mesmo solicitações para que eu organizasse uma viagem em que eles pudessem ir juntos. Percebi que essa vontade não era só minha, e que o mercado não estava preparado para receber pessoas com deficiência, então resolvi começar a trabalhar profissionalmente para resolver esse problema, explica.
O turismólogo acredita que há diversas falhas no ramo turístico e hoteleiro no país por falta de organização, fato visível, por exemplo, em diversos estabelecimentos e locais públicos, quando a melhoria destes serviços traria benefícios de imagem e retorno financeiro. Shimosakai conta que tem tentado implantar um serviço de atendimento à pessoas com deficiência e mobilidade reduzida nos aeroportos, mas tem tido imensa dificuldade em convencer os empresários:
– Há muita burocracia e politicagem por trás dos órgãos públicos que lidam com o turismo, e isso atrapalha imensamente seu desenvolvimento. O Ministério do Turismo faz um projeto de acessibilidade em uma cidade, mas quando eu sugiro que no novo programa de reclassificação hoteleira, sejam colocadas questões de acessibilidade, eles não dão importância. A ABIH Nacional tem uma Diretoria de Acessibilidade que não realiza nenhuma ação efetiva para a acessibilidade em hotéis.
Para o empresário, a Copa do Mundo e as Olimpíadas serão dois grandes eventos internacionais que tornarão a acessibilidade item obrigatório, em especial no que tange à adequação das cidades sede. Ele acredita que se for realizado um bom trabalho, será uma ótima oportunidade para implantar a acessibilidade nesses destinos, e ao mesmo tempo, promovê-las no cenário internacional:
– É muito importante escolher profissionais com conhecimento apurado em acessibilidade para que os projetos sejam elaborados da melhor forma possível, e também seria muito conveniente trocar experiências com os países que já sediaram esses eventos, e conheceram na prática como é aplicar a acessibilidade nesse tipo de evento, afirma.
As dificuldades enfrentadas para promoção de ações inclusivas e respeito às necessidades específicas no turismo se devem, para Ricardo, ao fato deste não ser considerado um campo essencial à economia do país. Ele acredita, porém, que o turismo é uma grande ferramenta de inclusão:
– Além de nos trazer a alegria e descontração, também agrega cultura, trabalha o condicionamento físico, acrescenta práticas de independência, experiência de vida, e é um grande recurso motivacional, por estar trabalhando todas estas áreas de uma maneira lúdica, conclui.
Fonte: Hoje em Pauta
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Ricardo, obrigada pela entrevista e pelo contato! Qualquer nova pauta sobre o tema de acessibilidade, entro em contato com você!
Parabéns pelo trabalho, mais uma vez!
Sucesso!
Grande abraço,
Isabela Pimentel
Olá Isabela, gostei da forma como você escreve. Espero que possamos fazer novos trabalhos juntos. Tenho procurado voluntários de jornalismo de qualidade para ajudar a Turismo Adaptado a ter mais projeção, e assim expandir suas ações para a sociedade