O agente de viagens e consultor de acessibilidade e inclusão, Ricardo Shimosakai, esteve em Bagé para palestrar no 1º Seminário de Inclusão, Acessibilidade e Turismo, que discutiu acessibilidade na cidade e o turismo adaptado. A sugestão de tema para o evento foi dos estudantes do curso técnico em Guia de Turismo da escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), Fernando Fagundes Nogueira e Monyque Elenciza, que já realizam o projeto “Viver Sem Limites”, sobre a prática do turismo adaptado.
Antes do evento, Shimosakai visitou por alguns dos principais pontos turísticos do município, entre eles o Museu Dom Diogo de Souza. Logo na chegada enfrentou a primeira barreira. “Seria preciso ter uma placa lá na frente indicando que existe entrada com acessibilidade pelos fundos”. Ele acrescentou que se não tivesse com alguém da cidade teria ido embora.
O outro empecilho ocorreu quando foi usar a entrada dos fundos. No começo da rampa há um degrau. E, sem a ajuda de outra pessoa, o consultor não conseguiria visitar o museu. Depois que já estava na rampa, ele solicitou para Nogueira, que o ajudava, que o deixasse locomover a própria cadeira. “Eu prefiro fazer as coisas sozinho para sentir as dificuldades”, dizia.
Sobre a entrada principal do local que é precedida por uma grande escadaria, o agente comentou que a construção de uma rampa poderia não ser funcional por haver uma inclinação muito grande. Porém, mais uma vez questionou se existia da informação no site da prefeitura sobre a possibilidade de entrada para deficientes físicos. “Eu não acredito que precisa existir uma rampa na frente. Porém, é preciso que a informação de que há uma entrada com acessibilidade esteja disponível em algum lugar”, destaca.
Já a altura dos objetos em exposição estavam adequadas para a visita de cadeirantes, de acordo com Shimosakai. Porém, comentou que o lugar poderia se adaptar aos deficientes visuais, pois por ser completamente visual acaba se tornando inacessível. “Seria importante ter réplicas de alguns objetos para que eles pudessem tocar”, lembra. Maquetes táteis também foram sugeridas pelo agente.
O banheiro utilizado pelo museu não é adaptado, porém por ser amplo possibilita a passagem da cadeira de rodas. “Em muitos casos, os cadeirantes só precisam de um local mais privado, já que nem sempre conseguem utilizar o vaso sanitário”. A pia foi entrave, pois não permitiu que ele conseguisse chegar perto da torneira.
O que diz a administração do museu
A diretora do Museu Dom Diogo de Souza, Maria Luiza Piegas, informou que com brevidade os problemas devem ser solucionados, já que as soluções são procedimentos simples, e que o local está sempre de portas abertas.
A cidade
O consultor andou pouco pelas ruas de Bagé, mas pelo passeio que fez pela Avenida Sete de Setembro pode perceber as rampas, que segundo ele facilitam a mobilidade dos deficientes físicos. Já o acesso às lojas foi ponto negativo. “É possível entrar em poucos lugares”, constatou.
Direitos
Para finalizar, o empresário relatou que a situação é conflituosa. A alguns lugares, por não serem frequentados por deficientes físicos, não investem em adequações. Quanto mais limitações um determinado local apresenta, mais o local deixa de ser visitado por não ter acessibilidade. “Antes eu me informava antes se o local tinha acessibilidade. Se não tivesse, não ia. Depois comecei a perceber que estava perdendo muito e comecei a ir em todos os lugares”. Shimosakai recorda que se não houvesse rampa ou elevador, ele solicitava que o carregassem. “Eu chegava e dizia que na próxima semana iria trazer mais 10 colegas”, brinca.
Portanto, o consultor acredita que é preciso questionar e reivindicar os seus direitos. “Muitos devem ter vindo aqui (museu) e não falaram nada. Mas eu acho importante falar porque muitos não têm conhecimento técnico para ver as necessidades”, argumenta.
O seminário
Um dos palestrantes do evento foi o presidente da Associação de Deficientes Visuais de Bagé, Paulo Augusto da Rosa, que falou sobre a importância do grupo. Para exemplificar ele usou a sua história de vida. “Eu fiquei oito anos dentro de casa. Depois que conheci a sala de recursos e a associação voltei a vida normal”.
Rosa acrescentou que a convivência com outros deficientes traz qualidade de vida. “É preciso trazer o deficiente para o meio. Assim ele se acha capaz”. Além do convívio, o espaço também serve para o desenvolvimento de atividades adaptadas, como o xadrez, futsal dominó e artesanato.
Fonte: Folha do Sul