A cidade do Rio, que vai receber as Paralimpíadas em 2016, ainda tem problemas sérios para assegurar o direito à mobilidade das pessoas com deficiência. A repórter Marina Araújo foi para a rua mostrar a rotina de dois cadeirantes que dependem do transporte público.

Mais de 46 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. E a maioria não tem o direito de ir e vir.

“Eu não tenho calçadas adequadas, eu não tenho transporte adequado. Eu acho que falta respeito”, afirma o sociólogo João Carlos Farias da Rocha.

Só no Rio de Janeiro, 1.327 prédios públicos não têm acesso adequado. Na Câmara Municipal, a reportagem acompanhou a entrada do sociólogo. Ele teve que entrar pelo acesso lateral; pela entrada principal, não deu.

João tem prioridade na fila do elevador. E sobe para visitar o plenário. Mas a escadaria impede o livre acesso do cadeirante.

“Quando você olha a casa do povo, né, eu pergunto que a minha parte está partida, né?”, diz João.

A Câmara tem um equipamento para descer cadeiras de rodas, mas não encaixa na do João.

“A gente está tentando aprovar uma emenda de R$ 20 milhões que adapte 443 prédios públicos municipais para deficientes”, explica o jornalista João Senise, do Movimento Meu Rio, sobre o projeto que deve ser votado nesta terça-feira (10) na Câmara.

A reportagem acompanhou também o Robson, outro cadeirante, pelas ruas da cidade.

Na altura da Central do Brasil – maior centro de integração de transporte público do Rio de Janeiro –, Robson atravessou seis avenidas, subiu e desceu seis rampas. Até chegar a um impasse: meio fio alto, faixa de pedestre e ele não consegue seguir adiante. “Vou me arriscar pulando com a cadeira embaixo, podendo cair e danificar o meu equipamento, né?”, lamenta o cadeirante. “Lá na frente eu não vou conseguir subir”.

Como é experiente, ele consegue descer. Atravessa a longa avenida. E fica na rua entre carros e ônibus.

Quando vê uma oportunidade, ele segue adiante. E a saga continua.

O primeiro ônibus para, o motorista faz força e consegue destravar o equipamento, que demora a baixar.

“Ele parou errado. Ele teria que parar 30 cm junto à calçada”, diz Robson.

A equipe acompanha Robson na espera pelo segundo.

“Dá licencinha, tô trabalhando”, diz o motorista do segundo ônibus, quando questionado sobre como fazer para o cadeirante entrar, apesar de o ônibus ter o sinal de cadeirante no coletivo. “Tem. É com a empresa, não posso fazer nada”.

Robson faz sinal e o terceiro ônibus não para.

O motorista do quarto ônibus demora para conseguir manejar o aparelho. Mas, quando ele pisa na rampa, afunda. “Não está 100%”, lamenta o cadeirante, que não consegue embarcar.

O motorista não consegue recolher a rampa e sai com ela para fora da porta.

O quinto ônibus fecha a porta antes de Robson entrar.

“Motorista, você não vai me levar, cara? O ônibus está vazio, meu espaço está lá. É obrigação sua”, grita Robson com o motorista do coletivo.

De repente o ônibus abre a porta. Ele parou o veículo porque viu a reportagem.

O aparelho funciona direitinho, mas Robson não embarca: “Estou chateado, indignado com a atitude dele. Não vou”.

“Eu vi tudinho. Quando ele pediu para parar, o rapaz disse que não funcionava. Isso é um absurdo. Que país é esse? Que isso ? Tudo errado”, disse um pedestre, também indignado com o desrespeito aos cadeirantes.

O sindicato das empresas de ônibus reconhece que há falhas no sistema – mas diz que 74% dos veículos têm elevadores.

Para o prefeito Eduardo Paes, a solução para a falta de acessibilidade virá com a construção dos corredores expressos de ônibus que terão rampas de acesso no nível da calçada.  A conclusão das obras está prevista para o segundo semestre de 2015.

Fonte: G1

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