Análise socioeconômica do significado das viagens para Pessoas com Deficiência

por | 6 set, 2013 | Turismo Adaptado | 0 Comentários

Quando viajamos, representamos algo além de nós mesmos porque somos parte de uma comunidade. Quando se é uma pessoa com deficiência, carrega-se dois itens de valor incomum – especialmente se combinados. Ambos tendem a surpreender as pessoas que se conhece numa viagem. Esses dois itens são o orgulho e o dinheiro. Por dinheiro, não me refiro apenas às moedas no seu bolso. Por orgulho, refiro-me à auto-determinação em saber que você está além das medidas econômicas de valor.

O próprio fato de ter uma deficiência e viajar sugere algo sobre sua condição econômica. Ele assinala o fato de que você tem crédito, economias, educação, talvez uma profissão que exija viagens, e acima de tudo a habilidade de tomar decisões por conta própria sobre o rumo de sua vida. Essa combinação de meios e dignidade é um método potente de transformação social.

Viagens de lazer significam um movimento para além do modo de sobrevivência.  Uma porcentagem pequena, mas crescente de pessoas com deficiência fez a transição para a estabilidade econômica, mas não estamos distribuídos igualmente pelo mundo. A viagem nos espalha ao redor dele, o que vale dizer que dissemina exemplos vivos de um estilo de vida alternativa.

À medida que uma geração de pessoas com deficiência permanente vivencia um grau crescente de emprego, educação e lazer, aqueles dentre nós com recursos para viajar pertencemos a um grupo de consumidores que está apenas começando a ser notado. A maneira que escolhemos de gastar esses recursos – até mesmo através de nossas atividades de lazer – tem um profundo impacto. Seguem alguns fatos não muito conhecidos, reunidos por Rosangela Berman-Bieler, do Instituto Interamericano para a Deficiência e o Desenvolvimento Inclusivo, utilizando pesquisas realizadas pela Organização Portas Abertas:

Adultos norte-americanos com deficiência ou mobilidade reduzida gastam, em média, 136 bilhões de dólarees por ano no turismo. Em 2002, esses indivíduos realizaram 32 milhões de viagens e gastaram 4,2 bilhões de dólares em hotéis, 3,3 bilhões de dólares em passagens aéreas, 2,7 bilhões de dólares em comida e bebidas, e 3,4 bilhões de dólares em comércio, transporte e outras atividades. Os destinos internacionais mais populares para esse segmento de turismo são: 1. Canadá; 2. México; 3. Europa; e 4. Caribe, nessa ordem.

Os recursos econômicos para determinar nosso próprio futuro nos permitem exercer um influência poderosa enquanto consumidores sobre as atitudes, a infraestrutura, e os produtos da indústria do turismo. Nosso comportamento de viagem é estudado por essa indústria.

A comunidade é o efeito multiplicador que torna o nosso comportamento econômico apenas uma pequena parte do impacto global que exercemos. Quando viajamos, representamos uma comunidade de pessoas com deficiência, e essa comunidade é perpassada por um fio unificador de orgulho.

Podemos ser afortunados e ter começado nossa viagem a partir de uma situação na qual a família, os amigos, a legislação, a sorte e o trabalho duro nos deram um senso forte de auto-confiança e uma vida entre pessoas como nós. Uma mudança de local pode nos colocar numa situação na qual nossa identidade enquanto membros da comunidade com deficiência é apenas vagamente percebida como um pertencimento, insignifcante e marginalizado, de uma “comunidade da diferença”. Com frequência, esses significados a nós atrelados no exterior são os próprios estereótipos que lutamos tanto para abolir ou dos quais tentamos ao menos nos isolar em nosso país.

As viagens podem representar uma ruptura com as fontes regeneradoras da identidade e do orgulho na vida do deficiente. A perda de uma comunidade do senso de deficiência com orgulho nos isola das relações interpessoais, das discussões políticas e da vitalidade artística de nossa cultura. E no entanto, talvez essa “presença da ausência” seja um dos momentos privilegiados da viagem. No plano pessoal, ela pode dar perspectiva a nossas vidas. No plano público, ela nos anuncia aos outros como um portal para um estilo de vida ainda por ser vivenciado como uma pessoa com deficiência.

Viaje pelo mundo hoje e você descobrirá que existe uma fome por comunidade e soliariedade entre as pessoas com deficiência. Como um estudante de intercâmbio, um mochileiro, um viajante de negócios ou um turista em férias, sua identidade enquanto pessoa como deficiência lhe dá acesso tanto à face positiva quanto negativa da cultural local. Aonde quer que vá, você encontrará oportunidades únicas de aprender com as manifestações locais da cultura da deficiência e também de contribuir para elas.

Quando viajamos, somos embaixadores de uma comunidade que transcende fronteiras, com um conjunto de valores fundamentais que o mundo tem a oportunidade de descobrir através das escolhas que fazemos. Leve seu orgulho consigo quando cair na estrada e aplaine o caminho para aqueles que virão depois de você.

Fonte: CVI Rio

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