O céu é o único limite para os turistas com alguma deficiência
Esta é a reprodução da edição especial escrita para o caderno Viajar do jornal Diário de São Paulo com o título “Turismo sem fronteiras”, publicado em 18 de março de 2010
Céu é o limite
Quem pensa que os deficientes não se divertem está bem enganado. Eles curtem a vida e bastante! Praticam esportes radicais e o céu é o único limite para eles explorarem o mundo — alguns até saltam de paraglider, paraquedas e asa-delta.
Ricardo Noboru Shimosakai, de 42 anos, foi vítima de um assalto relâmpago em 2001 e ficou paraplégico. Apaixonado por turismo, ele não deixou de conhecer novos lugares e praticar ecoturismo. Hoje, usa essa paixão para tornar as viagens acessíveis.
Ele é diretor da empresa Turismo Adaptado e coordenador da agência Freeway, no setor chamado Acessível, onde atua como agente de viagens e consultor de acessibilidade e inclusão. Seja a trabalho, seja a passeio, Shimosakai já conheceu diversos lugares no planeta. Ele saltou de paraquedas no interior de São Paulo, visitou vinícolas no Rio Grande do Sul e mergulhou em um naufrágio em Pernambuco.
Outros deficientes que não têm limites para explorar o planeta são os amigos Fernando Aranha, de 31, e Ezequias Prado, de 42, maratonistas cadeirantes que competiram várias vezes no exterior. A dupla ainda encontra dificuldades: “Muitas vezes, os hotéis falam que são adaptados, mas quando você chega lá não é nada disso. Também tenho encontrado problemas para alugar carros em viagens nacionais”, diz Prado.
Aranha participou de maratonas em Chicago, San Diego, Nova York, Miami, Orlando, Toronto e Berlim. O ex-modelo Ranimiro Lotufo Neto, de 49, praticava parapente em Andradas (MG), quando perdeu a perna direita em um acidente com um fio de alta tensão. E não desistiu dos esportes radicais. Ele já teve um quadro de esportes no programa da Adriane Galisteu, na Rede Record. Por conta disso, viajou para diversos lugares como Cuba, Costa Rica e Índia.
“O Brasil tem muito a aprender e se preparar. Estamos engatinhando no desenvolvimento do turismo de aventura. Reconheço que muito se fez nos últimos anos, mas o deficiente que quer participar de atividades ligadas ao ecoturismo ainda tem que enfrentar obstáculos que poderiam ser minimizados”, avalia Lotufo Neto, repórter de aventura e dono de uma produtora de conteúdo multimídia.
O objetivo do turismo é romper fronteiras para aproximar os viajantes de outros povos, culturas, costumes, gastronomia, artes… Isso unifica as nações e, de certa forma, diminui as diferenças. Cruzar continentes é fácil para os turistas que não possuem algum tipo de deficiência. Já para aqueles que são deficientes — só no Brasil existem mais de 24,6 milhões — ainda há muitas barreiras e diferenças a serem quebradas. A boa notícia é que vários países oferecem infraestrutura e as empresas prestadoras de serviços — companhias aéreas e rodoviárias, operadoras e agências de viagens e redes hoteleiras, por exemplo — estão se adaptando para melhor atender esse público.
Programas sociais
Muitos programas sociais já foram implantados para integrar essas pessoas. Trabalhar, estudar e viajar já é uma realidade para alguns deficientes. Existe a cartilha “Turismo acessível”, lançada em dezembro de 2009 pelo Ministério do Turismo, para adequar destinos e equipamentos aos deficientes. O manual reúne informações, legislações e normas de atendimento e está disponível na internet (está disponível no portal Turismo Adaptado)
No estado de São Paulo, o município que é referência no quesito acessibilidade é Socorro. Seu projeto de inclusão tem adaptações em lazer e serviços e já foi apresentado na África, no “Seminário Internacional de Acessibilidade e Meio Ambiente”, realizado em março deste ano.
O Rio de Janeiro possui o “Projeto Praia Para Todos”, idealizado pela ONG Espaço Novo Ser, que torna as praias mais acessíveis e atrativas aos deficientes. O programa é itinerante e a proposta é mostrar que todos podem se divertir à beira-mar. Quem deseja ir mais longe — conhecer um destino internacional ou aprender um idioma —, já pode fazer as malas porque vários países são bem estruturados para atender os visitantes especiais.
Com a inclusão de deficientes no mercado de trabalho, as entidades e empresas do setor turístico — companhias aéreas e rodoviárias, redes de hotéis, operadoras e outras — passaram a ver nesse público clientes em potencial. E a demanda que teve início com viagens a negócios se tornou também a do turismo de lazer. Tanto que a legislação e os programas sociais começaram a exigir adaptações para que os serviços fossem acessíveis.
Segundo a gerente de cursos no exterior da Central de Intercâmbio (CI), Luíza Vianna, a procura dos deficientes ainda é pequena: “Não temos um produto formatado, procuramos adequar nossos programas de acordo com a necessidade de cada um.” Escolas de idiomas, principalmente nos Estados Unidos, estão adaptadas. A Els, que tem mais de 50 unidades em cidades americanas, é considerada referência pela gerente da CI.
Em Londres, a Embassy Ces recebeu com sucesso um aluno deficiente visual. “Ele fez muitos amigos e foi um aprendizado para nós. A hospedagem na própria escola e a localização da cafeteria facilitaram a locomoção”, conta Luíza. A CI desconhece cursos adaptados para atender deficientes auditivos.
A agência CiaEco é especializada em roteiros ecológicos no Brasil e no exterior, e tem infraestrutura para deficientes. No país, os destinos são Fernando de Noronha, Lençóis Maranhenses e Itacaré. “Criamos viagens personalizadas buscando parcerias e passeios bacanas. Nossos pacotes são todos em passeios privativos, com acompanhamento de guias”, explica a diretora da empresa, Denise Santiago.
O ecoturismo é uma realidade para esses turistas. A agência Freeway, localizada na cidade de Formiga (MG), é referência nessa modalidade e tem roteiros para deficientes na Amazônia, em Belém, Trancoso, Bonito, Pantanal.
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Olá Ricardo..
eu sou cadeirante por acidente a pouco mais de 3 anos, estive no morro São Domingos em Poços de Caldas observando os saltos de Para-glaider e expontaneamente fui convidado a saltar junto a um instrutor responsável.. foi o maximo eu recomendo a quem tiver oportunidade em saltar, é muito importante fazer experiencias nesse sentido, a vida continua..
agradeço atenção.. Vinicius Costa.
Olá Vinicius,
Já voei de paraglider no Rio de Janeiro, além da emoção também poder ver as prais e a natureza carioca de um outro ângulo foi sensacional. A vida continua, mas a gente não sabe até quando. Por isso eu procuro viver a vida intensamente, principalmente depois da minha lesão, foi como um alerta. O resultado disso é que sou muito mais feliz do que antes, quando não possuia a deficiência. Abraços!